A MINHA RUA
a minha rua
é um beco sem saída
compreende-se
chego à minha rua
no tempo limite
do numero vinte e oito
dos meus anos
tive a rua lisboeta
onde nasci
mas perdi-a bem novo
guardo as marcas dessa rua
sabia dos sulcos onde corriam elétricos
do Tejo que estava perto
do viver sobre uma vinha
e duma antiga tapada real
outras ruas tive noutras paragens
onde sob as acácias
passavam belas raparigas negras
apregoando ameijoas
na verdade foram muitas ruas
mas emprestadas
mais tarde
cheguei a ter uma praça
e se o destino quisesse
com esse espaço de liberdade
me quedaria
mas então aí seria plasmado
e não poderia gozar o ter agora
a minha rua a verdadeira
a minha rua
é um beco sem saída
mas ainda bem
quando a descobri
trazia a explosão da poesia
nas mãos e nos ouvidos
e talvez por ser um beco
da poesia não sai mais
gosto de quase todas as ruas
particularmente daquelas que em Lisboa
descem para o Tejo
sobrevoadas por gaivotas
e com cheiro a maresia
gosto de todas as ruas
e da minha ainda mais
c peres feio – carcavelos – 2012.06.13 (dia de st. António)